Encerramento do IIº Festival de Teatro e Artes - Luanda 2012

DEPOIS DOS LENÇÓIS, de Yarú Cândido
(Projecto musical / Angola

Uma viagem musical. Uma nota só. A busca pelo que é provável e improvável encontrar “depois dos lençóis”…







Músicos:

Voz: AYANA

Viola baixo: Bigão Solar

Violoncelo: Enrique Cupull

Viola solo: Cloves Esteves

Bateria: Patrick

Piano: Osvaldo

Quarta-feira | 30 de Maio

Representação de
“Cavaqueira no Poste”
de Sérgio Mabombo
(Grupo Lareira / Moçambique) 


Sonhadores! Os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e as reformas das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Nesta peça encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.  
A crise financeira no mundo é consequência da idolatria do dinheiro e do poder, manifestada numa cadeia de corrupção de funcionários ávidos de ter mais, e que, pura e simplesmente, não cumpriram sua função a cabalidade.
Calvino (cego) e Tendeu (de braços amputados) são dois mendigos, que têm como sua casa um poste e vivem naquele local com a esperança de que um dia volte para ali, o milionário Drumond Galaska, o qual dizem ter lhes prometido tirar da pobreza. Enquanto esperam o Drumond Galaska levam a “Cavaqueira do Poste” cujo tema é a grande questão: a crise financeira mundial é causada pela miséria e a má distribuição dos recursos? Ou então, será o facto de nascermos maningues enquanto não temos nem sequer migalhas para o estômago?  

Esta crise poderia ser vista como oportunidade, mas, aí está a questão: conseguimos ver? parece que somos todos cegos, mudos e surdos. Cegos - porque não queremos ver.  Mudos - porque não podemos falar. Surdos - ainda que haja alguém que grite, não se ouve. Na verdade, a cavaqueira de Tendeu e Calvino mostra que somos demasiado cegos para ver os factos, sem braços para fazer algo e, pior ainda: com poucos miolos para endireitar o desfasamento entre os pobres (ociosos) e os ricos (gulosos).  
O maior efeito da crise mundial está focalizado na perda de emprego, mas nós nunca tivemos realmente emprego. Numa economia como a nossa, existem bancos a mais, que não têm como visão desenvolver o País, mas sim, a continuada exportação de dividendos produzidos por branqueamento de capitais, resultando daí uma completa abstenção de reacção ao problema específico por parte do Estado.  
“De facto, amigos! Percebam a miséria como consequência do crescimento da população acima dos recursos de subsistência. Deste modo a população só cresce porque há tusas desnecessárias, inconscientes. Consequência: vivemos como cães famintos, nojentos, odiosos, residentes nos postes, pedintes, improdutivos, fugitivos de manicómios, atrapalhadores de Cimeiras Estaduais. Por isso dizem estão arranjar uma forma de nos desaparecer de vez.” (Elliot Alex) 

FICHA TÉCNICA E ARTÍSTICA
Encenação: Elliot Alex
Elenco: Sérgio Mabombo e Diaz Santana
Luz, Som e Cenografia:  Nelson Mondlane
Vídeo e Imagem: Nelson Mondlane
Foto e  Designer gráfico: Elliot Alex

O AUTOR 
SÉRGIO MABOMBO. Ingressa no teatro em 1997, no Grupo Teatral Mutxeko, sob direcção de Mateus Tembe. Participa e é vencedor em festivais da Casa da Cultura do Alto Maé em 1998, com as peças O Pão que o Fiscal Trincou e O silêncio dos Espíritos. Participou em inúmeras oficinas internacionais de teatro.  
Em 2001 entra na Companhia de Teatral Mugachi, com a qual participa em 2004 no Festival Internacional de Expressão Ibérica (Fitei) – Portugal, com a peça A varanda do Frangipani. Faz Terra Sonâmbula e Último voo do Flamingo, obras de Mia Couto, adaptadas e encenadas por Elliot Alex.   
Escreveu e encenou Maputsolimpo em 2007 e Mentes e Sonhos em 2008. A Cavaqueira do Poste é o seu terceiro texto de teatro, interpretando o personagem Calvino. Em 2009 escreve o monólogo As Bolas, obra exibida no Brasil no festival Esse monte de mulher palhaça.  
Na arena cinematográfica gravou em 2009 o filme Flores Silvestres, do realizador espanhol Mikel Ardanaz. Actualmente faz Stand Up comedy no projecto Improriso iniciado há dois anos em Maputo.

O ENCENADOR
ELLIOT ALEX, encenador e actor de teatro. Natural da Província de Tete e residente em Maputo há 25 anos. Trabalhou como professor na Universidade Eduardo Mondlane em 2008-2009, onde  leccionou a cadeira de Representação (Interpretação). Estudou Direito na mesma Universidade e é jurista e advogado estagiário.
Ingressa no teatro em 1989, como fundador do Grupo de Teatro M´béu, no Teatro Avenida em Maputo, onde participou em quase todas as produções da companhia.
Em 1998 é convidado a integrar o Mutumbela Gogo, ainda no Teatro Avenida. Neste grupo integra o elenco de peças como Irmãos de Sangue, O Silêncio, Wagner e Os Bandoleiros de Schiller.
Em 2005 passa a ser actor freelancer, tendo sido convidado para participar
num projecto denominado Galagalazul. Entra em duas produções: Dois Perdidos Numa Noite Suja e Na Solidão dos Campos de Algodão.
Em 2004  dá os primeiros passos como encenador e dirige e adapta para  teatro A Varanda do Franjipani, Terra Sonâmbula (2005-2006) e O Último Voo do Flamingo (2007), do moçambicano Mia Couto.
Em 2003 é convidado para protagonista do filme Pregos na Cabeça, realizado por Sol de Carvalho. Depois deste filme participou em muitos outros como O Último Voo do Flamingo, adaptado e realizado pelo moçambicano João Ribeiro. Nos últimos anos tem sido um dos actores mais solicitados do cinema moçambicano, trabalhando com diversos cineastas nacionais e internacionais.